quinta-feira, 4 de julho de 2013

Irmandade - Capítulo 01

Havia sido um longo dia de treino. Nunca fora boa em lutas corporais, então Adrien havia decidido que eu deveria treinar mais. E treinar mais significava passar quase o dia inteiro na academia me matando, treinando ataque e defesa.  Peguei a chave da porta em minha bolsa, mas quando a coloquei na fechadura a porta se abriu.
   Todos meus sentidos ficaram alerta, a adrenalina percorreu meu corpo. Droga não tô afim de uma briga agora. Tateei a procura de meu revolver dentro da bolsa, destravei-o e entrei lenta e cuidadosamente em meu apartamento. Havia um cheiro diferente, um cheiro que eu não conhecia. Cítrico com um toque adocicado. Talvez seja só um ladrão.
Na pequena sala havia uma mesa de canto caída, e o vasinho que costumava ficar em cima dela estava espatifado no chão. Tirando isso nada estava diferente, continuei minha expedição pela casa, a cozinha estava intacta. Abri a geladeira e os armários, nada estava faltando. Da cozinha fui para meu quarto, o cheiro ali estava mais forte, mas nada estava fora do lugar. Não é um ladrão.
Ouvi um suspiro seguido de um gemido, vindo do meu banheiro. Ergui a arma, deixei o dedo no gatilho e entrei no banheiro. Havia alguém em minha banheira, estava todo encolhido, só podia ver seus cabelos negros.
- O que você está fazendo aqui?! - a cabeça se levantou, era um homem, tinha olhos grandes e amendoados, seu nariz era levemente torto para direita de uma forma charmosa e seus lábios cheios. Aproximei-me. Ele suava e tremia. O cheiro ácido de veneno preencheu meu olfato. Como não havia sentido logo de cara?! Estava fora de forma. - Droga! - deixei a arma em cima da pia e me aproximei dele, delicadamente toquei em sua têmpora e deitei sua cabeça para o lado, havia dois pequenos furos arroxeados em seu pescoço - Vou te levar para um lugar mais... confortável. - joguei seu braço em cima de meu ombro e o ergui. O arrastei até a sala e o ajudei a se deitar no sofá.
- Faz parar... - sua voz apesar de baixa e levemente distorcida por causa da dor, era forte e cheia de energia.
Fui à cozinha, abri o armário e peguei uma caixa, com vários pequenos frascos com líquidos de diversas cores. Li o rótulo de cada um até achar o que estava procurando. Um líquido esbranquiçado. Voltei à sala, o homem estava no mesmo lugar, mas parecia prestes a perder a consciência.
- É meio amargo, mas vai ajudara a dor passar. Com certeza é melhor que a dor que está sentindo. Abra a boca. - ele abriu relutante, deixei que cinco gotas caíssem em sua língua, ele fechou a boca, enquanto engolia fez uma careta - Agora você vai dormir e quando acordar conversaremos. - ele fez um gesto afirmativo, seus olhos agonizados de dor se fecharam lentamente. Sempre me assustava com a rapidez do efeito daquele remédio.
Sorte dele de ter esse remédio. Havia passado pelas mesmas coisas que ele estava passando e não tive nenhuma ajuda de remédios milagrosos.
Meu coração estava disparado. O sangue dentro do meu corpo corria milhões de vezes mais rápido que o normal. Meus músculos repuxavam. Parecia que estava pegando fogo. Um calor insuportável. Meus pulmões estavam cheios de ar e não conseguia expirar.  De repente não sentia nada. Nada. Uma pontada. Várias pontadas. Parecia que várias facas estavam sendo fincadas em meu corpo. Agora todo ele ardia, como se o fogo que havia me consumido tivesse passado, mas deixado meu corpo cheio de queimaduras que ardiam. O calor foi substituído pelo  frio. Como se alguém tivesse me dando um soco no estômago, todo o ar que havia em meus pulmões havia saído de uma vez. Fiquei desesperada. Era um pesadelo, mas estava de olhos abertos vendo o céu carregado de nuvens densas, mal conseguia me mover. Horas se passaram. Talvez dias se passaram. Lentamente tudo foi passando. E quando consegui realmente respirar, me mover, todo meu mundo havia mudado.
Balancei a cabeça tentando afastar aquelas lembranças de minha mente. As sensações ainda estavam em meu corpo, parecia que havia revivido tudo aquilo. Peguei um cobertor em meu armário e cobri o desconhecido no sofá.
Meu celular tocou, peguei minha bolsa que havia deixado jogada no chão ao lado da porta.
- Valentina, está tudo bem?!
- Oi Adrien, depende do ponto de vista...
- Como assim?!
- Encontrei uma surpresinha na minha banheira... Um novato.
- Como ele chegou ai?!
 - Só vou saber quando ele acordar... Neste exato momento ele está babando no meu sofá. Mas, porque resolveu me ligar?!
- Você normalmente me liga para reclamar o quanto havia pegado pesado com você enquanto bebe seu drinque. E hoje não ligou. Fiquei preocupado. - soltei um riso sarcástico o que o fez rir  - Você quer que eu vá ai para te ajudar com esse cara?! Talvez você...
- Ah Adrien, me poupe! Posso muito bem me virar sozinha.
- Sempre durona Val! Por isso que você é tão preciosa.
- Tchau Adrien, nos vemos amanhã. - tentei cortar a parte dos elogios que tanto me enchiam. Ele era um conquistador barato e nunca perdia a oportunidade de fazer elogios.
- Não posso ir ai tomar um drinque?! Não, obvio que não.
- Ainda bem que você sabe a resposta. Estou trabalhando, mas amanhã quem sabe?!
- Isso é um convite?!
- Tchau Adrien. Boa noite. - desliguei.
Coloquei o celular em cima da mesa da sala. Peguei uma taça, vinho doce e uma bolsa de sangue na geladeira. Despejei os líquidos na taça. Bebi um pequeno gole. O gelado e o doce invadiram meu paladar. Como aquilo era delicioso. Depois desceu queimando minha garganta e aliviando minha sede. Demoradamente tomei meu drinque, depois fui ao banheiro. O revolver ainda estava em cima da pia, travei-o e o guardei junto com todas as armas. Tomei um banho rápido, vesti jeans e camiseta branca com decote em V.
Olhei no relógio fazia uma hora que havia deixado o homem dormindo na sala. Fui até lá, a expressão de seu rosto havia se suavizado. Uma pequena mecha de seus cabelos pretos estava caída em seu rosto. Logo acordaria. Voltei a observá-lo, sua pele era bronzeada, cheio de músculos, aparentava ter 20 anos, minha idade antes de me transformar. Era atraente.
Ele abriu os olhos lentamente. Espreguiçou-se. Começou a olhar para os lados assustado, quando me viu se pôs em pé.
- Que lugar é esse?! Quem é você?! O que houve?! - sua voz estava cheia de energia.
- Muitas perguntas. Vamos começar pelo começo. Olá, sou Valentina, mas conhecida como Val. Respondi uma pergunta agora você me responde uma. Quem é você? - ele pareceu relutante em me responder. Sorri delicadamente. Com um sorriso era fácil extrair algo de um homem.
- John, esse é meu nome. Onde estou?! E como vim parar aqui?!
- Você está em meu apartamento. Eu é que te pergunto como você veio parar aqui?
- Não sei.
- É bom que você se lembre! - minha voz saiu ameaçadora, ele começou a negar com a cabeça, mas parou.
- E-e-eu acho que me lembro. Mas tudo parece fantasioso demais. - sorri.
- Bom, eu tenho uma leve propensão em acreditar no fantasioso.
- Estava em um beco pichando uma parede, quando alguém simplesmente pulou em cima de mim, caí no chão com força, algo perfurou meu pescoço. A pessoa fugiu. Levantei-me a procura de ajuda, caminhei sem rumo enquanto uma dor aguda percorria meu corpo, um homem veio me prestar ajuda, disse que precisava vomitar, ele me levou até um prédio... Ele me disse para pegar um caminho,  mas acabei entrando no elevador, não sei como cheguei a seu andar e nem como abri a porta. Só sei que aqui cheirava bem e me parecia certo estar aqui. Depois tudo é dor. Depois tem uma mulher que me carregou até a sala, eu disse algo e ela sumiu. Ai eu dormir.
- Entendi... Bom essa mulher era eu. Você tem família? Que more na cidade? - essa era a pior parte. Sempre. Não sobre a família. Mas a que ele começava a voltar à realidade.
- Tenho uma irmã... Porque você quer saber?! O que está havendo?! - ele parecia tão torturado que quase deu pena. Tentaria ser um pouco mais delicada. Ou não.
- Tem algo que se assemelha a um veneno na sua corrente sanguínea... esse veneno vai virar sua vida de cabeça para baixo... é veneno de vampiro.
- O que você quer dizer?!
- Que você não é mais humano... Você agora é um vampiro.

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