quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Irmandade - Capítulo 5

- Caçadores?! - seus olhos estavam levemente arregalados e confusos. Essa parte definitivamente era a pior, tinha que dar uma explicação imparcial. Odiava os caçadores, carregaria meu ódio por eles durante toda a eternidade, mas não podia demonstrar isso para os novatos. Eu tinha que demonstrar que eles eram perigosos e ao mesmo tempo não soar como uma louca carregada de ódio. Tarefa difícil, levando em conta que eu sempre era uma louca cheia de ódio.
- É, caçadores, aqueles com armas e que caçam presas...
- Mas eles caçam o quê? - revirei os olhos e fiquei em silêncio. Estava quase chegando à garagem do prédio e não poderia parar no meio da rua e dizer para John o quanto sua pergunta fora idiota. Um pesado silêncio se formou. Ele ficou esperando uma resposta, mas algo me dizia que ele soube a resposta assim que fez a pergunta. Encaixei meu carro na garagem e olhei para John.
- O que você acha? Nós. Vampiros.
- Mas... por quê?
- Porque somos aberrações da natureza - fiz o sinal de aspas no ar. Ele ficou esperando que eu continuasse, quando percebeu que só arrancaria aquilo de mim resmungou e saiu do carro, o segui. Assim que saímos do elevador ele explodiu.
- Eu estou tentando tomar uma decisão, mas preciso ver os dois lados da moeda antes de tomá-la! E você não está ajudando nem um pouco! - ele fechou a mão em punhos, enquanto eu destrancava a porta em silêncio. Ele entrou feito um furacão e foi para o seu quarto.
- Esses garotos de hoje em dia têm um temperamento muito difícil para meu gosto. Preciso de um drinque. - joguei um pouco de vinho seco e sangue em uma taça e bebi enquanto organizava os novos mantimentos. Sangues A+, A-, B+. Disquei o número de Adrien, ele atendeu no primeiro toque.
- Finalmente Val! Esperei seu telefonema o dia inteiro.
- Eu estava trabalhando. Coisa que você deveria fazer.
- Mas eu faço, é só que gosto de escolher quem vou treinar.
- Aram sei... Então, você está na cidade?
- Uau... será que vai surgir um convite? Eu estou onde você quiser, gata.
- Eu não sou gata, a propósito essa palavra fica horrível quando vinda da sua boca...
- Prefere que eu use palavras de baixo calão? - ele soou levemente rouco, me fazendo abrir um leve sorriso, estava tentando ser sexy para cima de mim.
- Isso você guarda para as suas prostitutas.
- Vou guardar isso e outras coisas para elas... Se você quiser guardo para você também.
- Eu dispenso! Prefiro maiores... - ele riu para valer, quando ele conseguiu recuperar o fôlego continuei a falar - Você vive se convidando para vir aqui em casa, venha hoje. Farei uma carne mal passada com cerveja e tem sangue A+ para você beber com uísque.
- Estou em êxtase por esse convite! Eu e meu amiguinho vamos adorar ir.
- Pode jogar água fria no seu amiguinho, ele não vai fazer parte da festa. 
- Sobre isso a gente conversa depois...
- Tchau. Esteja aqui as 8. - desliguei o telefone. Bati levemente na porta do quarto de John, ele resmungou um "pode entrar". O quarto já estava naquela bagunça típica de garotos. O tênis jogado em qualquer lugar, as roupas novas emboladas no armário, que estava com a porta aberta, a cama desarrumada e havia alguns sacos de sangue vazio jogados pelo quarto.
- Isso é nojento! - resmunguei enquanto jogava uma meia suja para o lado e me sentava no mini sofá.
- Valentina... desculpe... eu fui meio grosso agora pouco... é que tem tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo que estou prestes a explodir... - ele estava sentado na beirada da cama, seu cabelo negro estava todo bagunçado - Eu não sei o que fazer!
- Tudo bem. Se você soubesse o que fazer, seria algo inédito. - soltei um suspiro - Vou lhe falar sobre os caçadores, de forma simples o resto você descobrirá ao longo de sua existência. Quando o primeiro vampiro surgiu, surgiu o primeiro caçador. Dizem que era um padre, ou algum fanático religioso. A maioria dos caçadores são homens, que perderam algum ente querido para o lado vampiro ou algum religioso fanático.  Não existem nômades neste grupo. Todos eles se organizam em um grupo chamado Ordem dos Caçadores.
- O quanto isso é perigoso para humanos que sabem da nossa existência? -pensei no rosto contorcido pela dor de minha irmã.
- Antigamente era bem pior, hoje podemos proteger essas pessoas. Mas ainda sim eles são perigosos, se alguém conhece ou ajuda um vampiro, aos olhos dos caçadores esse alguém se tornou um vampiro.
- Desculpe a indiscrição, você já enfrentou algum caçador?
Estava cega pela morte de minha irmã. A imagem dela agonizando de dor enquanto morria, não me saia da cabeça. Sai pelas ruas caçando aqueles três homens. Eles iam pagar. Corria com todas minhas forças. Escondida pela escuridão noturna e a chuva forte. Sabia como era o sabor deles. O cheiro deles havia ficado impregnado na casa. Não via nada. Eram só borrões frios. O cheiro dos homens chegou até mim. Parei. Observei a minha volta. Havia barracos por todos os lados e um bar. Estava em uma das periferias da cidade. Aproximei-me da janela lentamente. Poucos homens estavam lá, a maioria eram velhos e alguns homens impossibilitados de guerrear. Em um canto escuro, havia três homens, um deles olhou em volta, quando seus olhos passaram pela janela vi o brilho violeta. Eram eles. Resolvi esperar que eles saíssem e depois armaria uma emboscada. Alguns minutos depois. Ou algumas horas depois. Não conseguira pensar no tempo, nem no desconforto de ficar em pé em frente a uma janela tomando chuva. Eles saíram. Rindo alto. Levemente alcoolizados. Eles se quer me notaram, enquanto os seguia. Eles entraram em uma viela escura. Fizeram uma curva para direita, quando me virei atrás deles, dei de cara com um muro extremamente alto. Eles haviam sumido.
- Procurando por nós?! - me virei os três estavam parados, com armas apontadas para mim. O de olhos violeta estava no meio. Em silêncio. Os outros dois riam.
- Vocês mataram minha irmã! - rugi enquanto corria em direção ao que estava na ponta, o mais baixo e magro. Um tiro atingiu de raspão em meu braço. Joguei a arma para o chão e torci seu pescoço. Tudo isso só havia dado tempo para que o do outro lado destravasse a arma. Dei um soco em seu peito, enquanto com a outra mão jogava sua arma no chão. Senti suas costelas estalarem. Ferozmente torci seu pescoço e ele caiu no chão. Afastei-me. O cara de olhos violeta ainda estava parado me observando.
- Muito inexperientes esses garotos. - e depois sorriu - Você é boa, uma vampira que iria tocar o terror, pena que você deu de cara com o melhor caçador. - ele riu, enquanto sua faca caia no garoto ao seu lado. O cheiro doce me infectou. O sangue brotou. Logo me vi abaixada ao seu lado. Meus dentes doíam - Sua irmã era uma garota forte. Só gritou quando lhe arranquei as unhas.
A sede e o veneno que ele havia despertado ecoaram dentro de mim, fiquei em pé e me virei para ele. Um sorriso debochado formado em seu rosto. Ele agora tinha uma arma apontada para mim. Ele atirou. O tiro atingiu meu ombro. Ele sangrou. Uma dor aguda percorreu todo meu braço. Observei o buraco. Esperando ver a cicatrização. Mas ele continuava a sangrar e latejar.
- Balas para vampiros. Uma mistura de prata com sal. Ótimo para ferir. - corri em sua direção, antes que ele atirasse. Preparei meu punho para lhe dar um soco, mas antes que minha mão estivesse fechada já havia lhe acertado. Ele gritou. Minha unha havia perfurado seu olho esquerdo. Ele segurou meus cabelos.
- Sua vadia! Você me cegou. - ele me jogou no chão com toda força que tinha. Algo afiado foi enterrado em minhas costas. Tentei me mover. Mas meu corpo estava paralisado. Ouvi os passos apresados do homem. A chuva caia em meu corpo, dando uma sensação de frieza incomparável. Meu rosto estava enfiado na lama. Ouvi passos. Tentei me mover. Não consegui. Meu ombro latejava. Alguém parou ao meu lado. Tinha a pulsação acelerada demais para um humano. Algo deslizou por minhas costelas. Senti meu corpo relaxar e voltar a se mover. Pulei de pé, pronta para enfrentar o que estava ali. Mas era só um garoto de sorriso maroto.
- Oi, eu sou Adrien.
Afastei as lembranças de minha mente. Foco Valentina!
- Já... várias vezes. Mas depois te conto sobre isso, agora, como já lhe disse, um amigo meu vai vir aqui e preciso arrumar algumas coisas.
- Amigo? - sua voz soou surpresa.
- É. Não é porque eu sou vampira que não posso ter amigos. E porque você não dá uma ajeitada no seu quarto. Isso tá nojento! - fiquei em pé e sai do quarto.
-Tá parecendo minha mãe! - ouvi ele resmungar.

-Eu ouvi! E não tenho idade para ser sua mãe, quem sabe sua bisavó? - ele gargalhou.