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Pode... O duro é você conseguir.
-
Você já tentou? - ele parecia curioso.
Eu havia me tornado um
ser mítico. Um vampiro. Um monstro, que vivia de sangue. Meus pais haviam se
sacrificado por mim. E eu me tornara um monstro. Peguei uma faca. A mais afiada
da cozinha. Enfiei-a em meu peito. Direto no coração. Senti uma ardência. Havia
um pouco de sangue. Mas não veio morte alguma. Retirei a faca. Havia a marca de
onde ela havia sido enfiada. A cicatrização foi instantânea. Desesperada tentei
o veneno. Mas não fez diferença alguma. Peguei a arma de meu pai na gaveta.
Atirei na cabeça. Só senti uma leve dor de cabeça que passou rapidamente. Corri
para fora da cidade, havia um penhasco aos redores dela. Joguei-me. Senti todos
meus ossos se quebrarem, mas a morte não veio. A dor da cicatrização era
intensa. Algumas horas depois já estava inteira. Não estava morta. Só tinha
muita fome.
-
Tentei. Várias vezes... Não consegui obviamente.
-
Mas deve existir um modo...
-
Sempre existe... mas não vou lhe contar. Não gosto de ser responsável pela
morte de novatos. - o sol começava a nascer no horizonte. Ficamos em silêncio.
Quase podia ouvir a cabeça dele. Os pensamentos deveriam ser uma confusão e
rápidos demais. A fase de revolta/depressão, havia sido rápida e agora ele ia
entrar na aceitação.
-
Quem era aquele cara? Porque ele ajuda os vampiros? Nós somos monstros!
-
O Victorio? Ele é um dos poucos humanos que sabem e ajudam os vampiros. A filha
dele é uma vampira, Franciele, ele a viu sendo transformada e a ajudou a passar
por tudo. Um homem bom.
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Pobre homem... Sabe você parece conhecer bastante sobre os vampiros...
-
É... eu conheço. - disse de modo vago enquanto entrava na garagem. Subimos até
meu apartamento - Tem um quarto para você com banheiro e tudo mais -
destranquei uma porta que ficava quase invisível na sala - A cama está
arrumada. Sinta-se a vontade. Tem sangue na geladeira, mas não beba tudo. Eu
vou tirar um cochilo, mais tarde tenho coisas importantes para fazer.
-
Vampiros dormem?
-
Somos como humanos, só que mais bonitos, rápidos, inteligentes e nos
alimentamos de sangue... Você logo verá que essa vida tem muitos lados
positivos, só existem 3 lados ruins... Outro dia te explico, porque agora estou
cansada - soltei um bocejo - Não se esqueça do vaso quebrado no chão da sala! -
gritei enquanto me encaminhava para o meu quarto.
Tranquei
a porta. Isso pode retardar um ataque inimigo e me dar tempo para fazer uma
estratégia de fuga, apesar de que a estratégia estava perfeitamente decorada em
minha cabeça.
Parei
em frente à penteadeira e observei meu reflexo no espelho. Minha pele clara
contrastava com meus cabelos negros de tamanho mediano, não eram compridos e
nem curtos, lisos, repicados de forma desordenada e tinha a pequena franja sempre
jogada para o lado. Meus olhos verdes continham um brilho prateado, me
lembrando do que tinha dentro de mim. Tinha lábios carnudos, nariz bem feito.
Meu rosto tinha um aspecto delicado, apesar de nunca ser delicada, era
considerada forte entre todos, às vezes era chamada de durona e até de mal
humorada. Mas essa era minha proteção, uma menina criada por uma família de
judeus no período do nazismo deveria ser assim.
Abri
a porta de meu armário, abri um espaço entre as roupas que estavam
dependuradas, tateei a parede a procura do pequeno puxador que havia escondido
ali. Sem resistência alguma a porta se abriu. Uma pequena luz no teto do
armário foi acessa, era ali que escondia minhas armas, revólveres, pistolas,
adagas e até um pequeno arco e flecha. Peguei uma adaga. Em seu cabo tinha
esculpido um pequeno anjo do lado direito e do lado esquerdo havia um pequeno
pentagrama. Essa fora a primeira arma que havia ganhado. Era especial para mim.
Fechei a porta. Coloquei a adaga em baixo de meu travesseiro.
Uma
claridade idiota batia em meu rosto insistindo para que eu acordasse.
Amaldiçoei-me mentalmente por não ter fechado a cortina quando fora dormir e
também amaldiçoei o dia por estar tão ensolarado. Meu humor não combinava com
sol, preferiria um dia nublado, assim teria uma desculpa para meu mal humor.
Virei
o rosto para o lado e olhei o relógio. 13:05. Espreguicei-me feito um gato,
joguei as cobertas no chão. Caminhei sonolenta até o banheiro e joguei uma água
no rosto, para ajudar a despertar. Ouvi algo metálico cair, vinha da cozinha.
Peguei minha adaga, destranquei e abri a porta. Dei de cara com John revirando
um dos meus armários. Havia me esquecido completamente que havia um novato em
meu apartamento. Ele se virou e me encarou assustado. Observei a adaga em minha
mão. A abaixei e coloquei-a na mesinha ao meu lado.
-
Desculpe! Isso é só... prevenção.
-
Ok! Bom dia então.
-
Bom dia por quê? Eu acordei, não é um bom dia. - ele revirou os olhos e depois
voltou a me encarar, desta vez havia desejo em seus olhos, abaixei o olhar. Estava
usando uma mini camisola preta que deixava minhas pernas a mostra, era
transparente na barriga e tinha um belo decote - Não está acostumado com
mulheres? Não me vá dizer que é um puritano! Não precisa responder, vou me
trocar. - dei alguns passos para trás, não achei seguro virar de costas, se ele
havia agido assim de me ver de frente imagina de costas, onde toda a camisola
era transparente e metade de meus quadris ficava amostra.
Vampiros
eram seres considerados sexuais, algo envolvente, acredito que tenha haver com
o sangue e a imortalidade. Quando mais velho um vampiro ficava mais bonito se
tornava. Demorei um pouco a me acostumar com isso. Beleza, sexo, luxuria era
algo comum entre os vampiros. Antes de me tornar uma deles, era uma garota
recatada, cheia de modos e pudores, mas a vida me ensinou a agir de acordo com
a ocasião e com quem convivia. Agora para mim toda essa luxuria era tão normal
quando ter um estoque de sangue na geladeira.
Procurei
por roupas casuais e impactantes. Escolhi uma calça jeans preta, que se
ajustava perfeitamente ao meu corpo, regata preta com um leve decote e bem
colada ao corpo e uma sapatilha lilás. Voltei a sair do quarto. John evitou me
olhar, continuou a tomar seu sangue, desta vez em um copo, de forma mais
civilizada. Isso é bem irônico.
-
Como passou a noite... - olhei para a janela e me corrigi - manhã?
-
Acredito que bem... apesar de tudo ser tão estranha. Ah, assim que você foi
dormir limpei o vaso quebrado da sala, então pare de falar dele. Depois acabei
dormindo. Acordei agora e vim procurar comida.
-
Ótimo. - peguei uma taça, misturei sangue com vodca.
-
Você sempre toma sangue com bebida alcoólica? Até no café da manhã? - sorri de
forma desdenhosa.
-
3 coisas. 1ª fica muito melhor. 2ª vampiros não ficam bêbedos. 3ª agora está
mais para almoço do que para café da manhã. - ele revirou os olhos e deu de
ombros - Experimente. - estendi o copo para que ele pegasse.
-
Não obrigado.
-
Não estou oferecendo, estou mandando. - ele virou de costas e despejou um pouco
mais de sangue em seu copo. Antes que ele
me impedisse coloquei uma dose de vodca junto com o sangue - Experimente,
caso não goste te deixo em paz. - ele bebeu.
-
É bom... mas prefiro puro. - Homens eram tão orgulhosos. Terminei meu drinque.
Observei
o meu estoque na geladeira, estava baixo. Há muito tempo vivia sozinha, tinha
me esquecido como um novato bebia muito sangue. Esse devia ter sido o motivo
para o estoque ter diminuído vertiginosamente.
-
Andou fazendo lanchinhos durante a noite. - ele me olhou, mas não disse nada -
Vamos sair... tem alguma roupa para vestir? - observei a camiseta e calça
amassadas que ele estava usando.
-
Que pessoa que carrega outras roupas, pensando que precisaria porque poderia me
tornar um vampiro?
-
Bom ponto de vista. - resmunguei enquanto entrava em meu quarto, abri o armário
havia algumas peças de roupas masculinas nele. Escolhi uma camiseta azul escuro
e calça jeans, voltei para a cozinha - Veste isso.
Ele
olhou as roupas e depois sumiu dentro do quarto dele. Em dois minutos ele já
estava pronto.
-
Pelo visto a roupa serviu. - peguei a bolsa e as chaves do carro – Vamos. – ele
ficou de pé e me seguiu, dirigi até uma ruela escura onde raramente haviam
pessoas transitando. John me olhou, havia um misto de medo em confusão em seus
olhos.
-
Que lugar é esse? O que viemos fazer aqui? – abri um pequeno sorriso. Abri a
porta do carro e sai. Ele continuou no carro me olhando de forma desconfiada.
Todas as casas eram iguais, tijolos a vista, portas de ferro enferrujadas e as
janelas estavam, em sua maioria, quebradas ou coberta por jornais. Bati em uma
das portas que foi entre aberta.
-
Quem?!
-
Sou eu, Valentina. – a porta foi aberta e uma mulher alta de cabelos vermelhos
surgiu – Olá Gabbe.
-
Oi, Val. Veio comprar roupas para você?
-
Não é para meu novato. – apontei para o carro. Ela sorriu.
-
Um verdadeiro pedaço de mal caminho. – chamei John com a mão.
-
John essa é Gabbe, Gabbe John. Ela é uma vampira e vai te ajudar a comprar
algumas roupas. – Gabbe o segurou pelo braço e o arrastou para dentro da loja.
A loja era toda branca e tinha uma parede
pintada de preto. Havia várias araras cheias de roupas, de todos os tamanhos e
cores. Confortáveis sofás pretos, com uma mesinha de madeira escura ao lado,
que sempre tinha uma jarra cheia de sangue, taças e revistas.
John
escolheu algumas camisetas, calça jeans, bermudas e um tênis. No caminho de
volta pra casa ele permaneceu calado por todo o trajeto.
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O que houve?
-
É minha irmã... Ela nunca vai saber sobre mim?